O HUMANISMO IBÉRICO E A HUMANIDADE DOS INDÍGENAS: FRANCISCO DE VITÓRIA E AS LEIS DE BURGOS

Authors

  • Alexander de Castro Universidade Cesumar - Unicesumar - Maringá, PR, Brasil
  • Crístian Rodrigues Tenório Universidade Cesumar - Unicesumar - Maringá, PR, Brasil

DOI:

https://doi.org/10.25245/rdspp.v9i2.1072

Keywords:

Neoescolástica, Francisco de Vitória, Leis de Burgos, Direitos Humanos, Direitos da Personalidade

Abstract

Analisaremos aqui as ideias de Francisco de Vitória e a legislação colonial nas Américas, estudando especificamente, a obra Relectio de indis, de Vitória, e as Leis de Burgos (1512 – 1513). Vitória tratou do direito dos índios nos quadrantes de um jusnaturalismo de corte racionalista. Para ele, os índios partilhavam da mesma essência humana que os europeus cristãos e, assim, possuíam uma dignidade intrínseca originadora de uma série de direitos. Em especial, eles não podiam ser escravizados, sofrer violências ou ter sua propriedade expropriada. Ao mesmo tempo, a coroa espanhola tentava disciplinar o tratamento dispensado pelos exploradores aos nativos no Novo Mundo com as Leis de Burgos, buscando coibir os abusos perpetrados contra eles. Proibia-se a escravização dos índios, a prática de maus-tratos físicos e de abusos verbais contra eles, garantindo-lhes ainda o uso de seu nome, entre outras coisas. O reconhecimento de sua essência humana e da sua correspondente dignidade intrínseca incentivou a proteção a aspectos da manifestação de sua personalidade, como o direito ao nome, à integridade corporal e à integridade psíquica. É, certamente, prematuro enxergar conceitos modernos nesses experimentos legislativos quinhentistas, porém é inegável que se iniciava ali uma ruptura com o pensamento filosófico-jurídico medieval destinada a conduzir-nos aos direitos humanos e aos direitos da personalidade. E o que o estudo dessa trajetória mostra, como no caso de Vitória e das Leis de Burgos, é que esses domínios jurídicos derivam das mesmas bases teóricas, tese que fundamentaria também a ideia de proteção integral da pessoa.

Author Biographies

Alexander de Castro, Universidade Cesumar - Unicesumar - Maringá, PR, Brasil

Pós-­doutorado pela Westfälische Wilhelms Universität Münster (Alemanha) e pela Freie Universität Berlin (Alemanha); Doutor em Teoria e História do Direito pela Università degli Studi di Firenze (Florença, Itália);  Mestre em Teoria e Filosofia do Direito pela Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC); Foi pesquisador visitante no Centro di Studi per la Storia del Pensiero Giuridico Moderno da Università degli Studi di Firenze, no Institut für Rechtsgeschichte e no Exzellenzcluster Religion und Politik in den Kulturen der Vormoderne und der Moderne, ambos da Westfälische Wilhelms ­Universität Münster (Alemanha), bem como no Lateinamerika ­Institut da Freie Universität Berlin (Alemanha). Também foi resident fellow do Polish Institute of Advanced Studies da Academia de Ciências da Polônia. Trabalhou como pesquisador (wissenschaftlicher Mitarbeiter) no Institut für Rechtsgeschichte da Westfälische Wilhelms­ Universität Münster. Foi professor substituto na Universidade Federal de Santa Catarina. Docente Permanente do Programa de Mestrado em Ciências Jurídicas do Centro Universitário de Maringá (Unicesumar). 

Crístian Rodrigues Tenório, Universidade Cesumar - Unicesumar - Maringá, PR, Brasil

Mestre em Ciências Jurídicas pela UniCesumar (Maringá-Pr). Professor na PUC-Pr (campus de Maringá).

References

ANDRIEN, Kenneth J. Andean Worlds: Indigenous History, Culture, and Consciousness Under Spanish Rule, 1532-1825. Albuquerque: University of New Mexico Press, 2001.

ANZOATEGUI, Victor Tau. Elementos consuetudinários em la politica indiana de Solorzano. Revista de historia del derecho, Buenos Aires, n. 15, pp. 469 -502, 1987.

CABALLOS, Esteban Mira. Aproximación al estúdio de uma minoria étnica: índios em la España del siglo XVI. Hispania revista española de historia, Madrid, V, 56. 3., pp. 944 – 964, set-dez. 2006.

CANTARELLI, Margarida. Francisco de Vitória, a Doutrina Colonial para o Novo Mundo. In BRANDÃO, Cláudio; SALDANHA, Nelson; FREITAS, Ricardo (Coord). História do direito e do pensamento jurídico em perspectiva. São Paulo: Atlas, 2012.

DUFOUR, Francisco Icaza. Los señores de vassalos em índias. Revista chilena de historia del derecho, Santiago, n. 15, pp. 199 – 204, 1989.

ESPANHA. Ordenazas reales para el buen regimiento y tratamiento de los indeios. Leyes de Burgos, 1512. Disponível em: https://www.uv.es/correa/troncal/resources/leyesburgos1512.pdf. Acesso em: 21 jun. 2021.

ESPANHA. Ordenanzas de 1513, declarando y moderando las de Burgos de 1512. Leyes de Valladolid, 1513. Disponível em https://www.uv.es/correa/troncal/resources/leyesburgos1512.pdf. Acesso em: 21 jun. 2021.

FERMENTÃO, Cleide Aparecida Gomes Rodrigues; GARCIA, Patrícia Martins; BALDASI, Marcos Vinicius Soler. Instrumentos para efetivação do direito à convivência familiar e comunitária: política pública de acolhimento familiar visando a dignidade humana. Revista Direitos Sociais e Políticas Públicas – Unifafibe. V. 9, N. 1, 2021.

KRELL, Andreas Joachim; SILVA, Carlos Henrique Gomes da. Por uma concepção neoconstitucional da cidadania: da cidadania política à cidadania social e jurídica. Revista Direitos Sociais e Políticas Públicas – Unifafibe. V. 9, N. 1, 2021.

KROEF, Justus M. Van Der. The nature of colonial policy. The catholic historical review, Washington, v. 35, n. 4, pp. 129 – 162, 1950.

LOPES, José Reinaldo de Lima. O direito na história. 4. ed. São Paulo: Atlas, 2012.

MANGO, Cynthia Ferrari. Gestionando la política social territorialmente: el “Argentina trabaja” desde el “movimiento evita” (2009 -2018). Revista Direitos Sociais e Políticas Públicas – Unifafibe. V. 9, N. 1, 2021.

MUÑOZ-ARRACO, José Manuel Pérez-Prendes. Interpretación histórica del derecho: notas. Esquemas. Práticas. Madrid: Servicio publicaciones facultad de derecho. 1996.

PEÑA-PEÑALOZA, Roberto. Los autores, fuentes del derecho canônico indiano, Anacleto Reiffentuel y el jus canonucum universum. Revista chilena de historia del derecho, Santiago, n. 14, pp. 71 – 89, 1991.

PIZARRO ZELAYA, Antonio. Leyes de Burgos: 500 años. Diálogos revista electrónica de historia, San Pedro, v. 14, n. 1, p. 31-78, Aug. 2013. Disponível em: http://www.scielo.sa.cr/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1409-469X2013000100002&lng=en&nrm=iso. Accesso: 15 Jul. 2021.

SANTOS JUSTO, Antônio. Nótulas de história do pensamento jurídico. Coimbra: Coimbra editora, 2005.

SCHIOPPA, Antonio Padoa. História do Direito na Europa. Tradução de Marcos Marcionilo e Silvanan Cobucci Leite. WMF São Paulo: Martins Fontes, 2014.

SERRA, Antonio Truyol. Les principies du droit public chez Francisco de Vitoria. Madrid: Ediciones cultura hispanica, 1946.

SCHWARTZ, Stuart B. Cada um na sua lei: tolerância religiosa e salvação no mundo atlântico ibérico. Tradução de Denise Bottman. São Paulo: Cia. Das Letras, 2009.

STORINI, Claudia. Pluralismo y buen vivir un camino hacia otro constitucionalismo posible. Revista Direitos Sociais e Políticas Públicas – Unifafibe. V. 9, N. 1, 2021.

TRELLES, Camilo Barcia. Francisco de Vitoria fundador del derecho internacional moderno. Valladolid: Talleres Tipográficos ‘Cuesta’, 1928.

VICENTE DO SALVADOR, Frei. História do Brasil. São Paulo: Melhoramentos, 1975.

VITÓRIA, Francisco de. Relectio de indis. Tradução de L. Pereña e J. M. Perez Prendes. Madri: Consejo superior de investigaciones cientificas, 1967.

ZANINI, Leonardo Estevam de Assis; QUEIROZ, Odete Novais Carneiro Queiroz. A autonomia privada na aceitação e na renúncia da herança. Revista Direitos Sociais e Políticas Públicas – Unifafibe. V. 9, N. 1, 2021.

Published

2021-09-29

How to Cite

de Castro, A., & Tenório, C. R. (2021). O HUMANISMO IBÉRICO E A HUMANIDADE DOS INDÍGENAS: FRANCISCO DE VITÓRIA E AS LEIS DE BURGOS. Revista Direitos Sociais E Políticas Públicas (UNIFAFIBE), 9(2), 28–55. https://doi.org/10.25245/rdspp.v9i2.1072

Issue

Section

DOUTRINAS NACIONAIS

Most read articles by the same author(s)