GÊNERO E PODER NAS CENTRAIS SINDICAIS
DOI:
https://doi.org/10.25245/rdspp.v13i2.1715Palavras-chave:
Desigualdade de Gênero, Sindicalismo, Centrais Sindicais, Liderança Sindical, Representatividade FemininaResumo
O artigo analisa a representatividade feminina em cargos de liderança nas centrais sindicais brasileiras sem poder colegiado, ao final de 2024, partindo da constatação de que, apesar da ampla normatização nacional e internacional em favor da equidade de gênero, a participação das mulheres em posições de poder continua limitada, especialmente no sindicalismo. A pesquisa foi exploratória, podendo ser considerada uma pesquisa tanto qualitativa quanto quantitativa descritiva, sendo conduzida por meio de um levantamento documental, com extração de dados dos painéis estatísticos do Ministério do Trabalho e Emprego (MTE) e dos sites institucionais das centrais sindicais. Foram analisadas 09 centrais sindicais registradas no MTE, representando 75% do total das entidades ativas. O artigo apresenta a seguinte questão de investigação: Qual é o percentual de mulheres que ocupam cargos de presidência e vice-presidência em centrais sindicais brasileiras sem poder colegiado ao final de 2024? A hipótese é a de que a participação feminina em cargos de presidência e vice-presidência em centrais sindicais brasileiras sem poder colegiado é significativamente inferior à masculina, refletindo barreiras estruturais e institucionais à ascensão das mulheres em posições de liderança sindical. Os resultados indicaram que apenas uma mulher ocupava a presidência de uma central sindical em um universo de 18 mandatos analisados, correspondendo a apenas 5% do total. No caso das vice-presidências, 80% eram ocupadas por homens e apenas 20% por mulheres. Esses números contrastam com a realidade do mercado de trabalho, onde as mulheres representam 42% da força de trabalho e possuíam em 2022 maior taxa de filiação sindical do que os homens. O artigo discute a persistência de barreiras institucionais e estruturais, como o teto de vidro e a barreira do cuidado, além da perpetuação de estereótipos de gênero que dificultam a ascensão feminina nos espaços de poder, argumentando que a baixa presença de mulheres na liderança sindical compromete a efetividade da luta por equidade de gênero no mercado de trabalho, destacando por fim, a necessidade de reformulação das práticas internas das centrais sindicais, bem como de ações concretas para garantir maior inclusão feminina nos espaços decisórios.
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