CONDUÇÃO DE AUTOMÓVEL E ENVELHECIMENTO: IMPLICAÇÕES À ERGONOMIA COGNITIVA NO ÂMBITO DA PERCEPÇÃO VISUAL
Resumo
Condução veicular é uma tarefa complexa que exigi do condutor uma capacidade psicomotora ágil, funções cognitivas intactas, capacidade visuomotora hábil, percepção, atenção e função executiva acurada. Tal como o crescimento da população idosa é um fenômeno mundial, o número de motoristas idosos também é crescente. A senescência compromete de forma distinta o funcionamento de diversos sistemas do organismo, dentre eles, o sistema visual, cognitivo e motor, acometendo mais frequentemente o sistema nervoso central. Déficits cognitivos e fisiológicos são associados ao crescimento do risco de acidente de transito entre os idosos. Um motorista com declínio cognitivo enfrentará problemas maiores em adotar estratégias visuais flexíveis. A capacidade dos motoristas em perceber recursos visuoespaciais, coordená-los e controlar o veículo, são decisões críticas de nível operacional. A coordenação entre a busca visual e o controle motor pode ser interpretada como a extensão para o qual a percepção visual e as habilidades motoras finas estão bem sincronizadas. O desempenho da coordenação visuoespacial pode ser um indicador sensível para a avaliação da competência do condutor, uma vez que revela a capacidade de condução fundamental. Estudos indicam que a percepção visuoespacial e a cognição são habilidades frequentemente requisitadas para garantir uma condução veicular segura e eficaz.
Este artigo objetiva, através de uma revisão integrativa, investigar implicações da senescência no âmbito cognitivo, sensorial, visuoespacial e motor, em motoristas idosos, a fim de compreender os fatores agravantes na condução veicular deste público e abrir caminhos para futuros estudos experimentais.
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